terça-feira, 11 de novembro de 2008

acontecera. Baixinho, dizia pra si mesmo a todo o momento: “Que linda! Que Linda...”
Passaram-se alguns dias. Noemi recebeu o telefonema que tanto esperou! Conversou por mais de duas horas com Evandro, o que deixou sua mãe irritadíssima.
No mês de Agosto daquele ano de 1992, encontravam-se sempre na saída do colégio, e logo já estavam firmemente namorando.
No dia 7 de setembro depois de assistirem ao desfile cívico em comemoração á independência, ele foi apresentado aos pais da moça e acabou ficando para o almoço.
No dia 29 do mesmo mês a Câmara em Brasília autorizou a abertura do processo de impeachment contra o presidente Collor. Logo após a votação a favor do processo que levou à renúncia do presidente em dois de outubro, Noemi, Evandro e Mila saíram mais uma vez com os rostos pintados, juntamente com uma multidão de manifestantes. Comemoravam extasiados a decisão do Legislativo. Tudo se repetia: hinos, gritos de ordem contra a corrupção, fogos, bandeiras... iam eles tomando conta das ruas e avenidas, terminando as concentrações á noitinha.
Voltando para casa, vinham discutindo sobre a iminente queda do presidente da república. Evandro dizia a todo momento que na próxima aula não deixaria de prestar contas com Emílio, professor de Matemática que durante todos os meses em que se desenrolava o escândalo político, dizia não acreditar que o presidente perderia seu mandato, alegando que no Brasil a corrupção jamais seria punida.
Noemi e Evandro jamais se esqueceram daqueles dias de passeata, de manifestações políticas que aconteceram por todo o país. Ela sempre diz a Evandro, hoje seu marido, que viver naqueles dias não era muito diferente de viver nos agitados e famosos anos sessenta, os anos de seus pais. Nunca esquecem, quando a conversa é impeachment do presidente Collor, de criticarem alguns críticos “intelectuais” da imprensa que fizeram naqueles dias irônicas citações contra os estudantes secundaristas caras -pintadas, na TV, nos jornais, dizendo que estes saíam às ruas mais para arranjar namorados do que para fazerem realmente política. Noemi sempre diz: “Ora, como milhares de jovens saindo nas ruas do país numa manifestação política genuína não haveriam de encontrar a sua outra metade ? Eu encontrei o meu amor e ainda ajudando a derrubar um presidente corrupto! A História não poderá jamais omitir a importância dos caras-pintadas naquele momento tão importante que o país vivia...”
Mila que ainda é amiga de Noemi, quando visita-lhe, ao conversarem sobre política, diz que esta pode considerar-se feliz por ter participado diretamente de um dos fatos mais importantes da vida nacional, e nunca se esquece de acrescentar o fato da amiga ter conseguido arranjar um namorado naqueles dias, namorado que tornou-se seu marido e pai de seus filhos: “Nô, eu queria tanto ter conhecido o Pedrinho naqueles dias também!”.
As músicas que fizeram sucesso naquele tempo e que eles ainda ouvem de vez em quando são “Alegria, Alegria” do Caetano, e “Eduardo e Mônica” do Legião Urbana. E nessa música do Legião, há uma frase curiosa que diz: “E quem irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração?”

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