sábado, 17 de março de 2012

SUTILEZA - (Jayme Cardozo Jr.)

"Onde está aquela moeda?" Dizia a si mesmo Marcos Tito, abrindo gavetas, subindo em cadeiras para ver por de cima de armários, guarda-roupas. Sabia que a moeda que Ivana lhe mostrara e que tanto falara, destacando-a das outras de sua coleção era aquela que a pouco vira na internet, a moedinha inglesa de ouro.
Na coleção não estava. Tinha que estar em algum lugar. "Ela não pode ter levado-a."
Ela, viajando a trabalho, nem imaginava que naquele momento em sua casa, Marcos Tito revirava tudo para encontrar a tal moeda valiosíssima.
Marcos Tito viu num site de numismática que a moeda na verdade valia o triplo do que Ivana lhe havia dito. Realmente valia uma fortuna.
"Ah, se eu achar essa moeda eu estou rico!" Era o que dizia a si mesmo Marcos Tito. "E ela pensando que valia menos!" - pensava.
Ivana, descansando no hotel em que se hospedara no centro da cidade de Campinas, resolveu ligar para Marcos Tito, o namorado não de muito tempo, na verdade de três meses de relacionamento; ligaria para saber se estava tudo bem com ele, com a casa, pois ele ficaria na casa naqueles dias em que Ivana estaria em Campinas.
O telefone tocou por várias vezes. O rapaz vira na bina que era Ivana. Não quis atender, pois seus pensamentos estava em econtrar aquela moeda. Não conseguiria, pensara rapidamente, conversar com Ivana naquele momento em que fazia algo contra ela, na casa dela, sem que ela soubesse disso. Se encontrasse aquela moeda não pensaria duas vezes em tomá-la pra si, e procuraria quem a comprasse.
No momento em que desligou o telefone no quarto do hotel, Ivana pôs-se a pensar em Marcos Tito; no pouco tempo em que o conhecia de verdade mesmo. No pouco tempo de namoro. Na paciência que tivera em aceitá-lo como seu namorado, um arquiteto recém formado, que nem tinha ainda um trabalho fixo.
Pensou também na confiança que depositara no rapaz que lhe tocara tanto o coração. Em como permitira que ele ficasse tomando conta de sua casa naqueles três ou quatro dias em que faria de tudo para fechar duas vendas de fazendas a empresários daquela cidade.
Vitoriosa, voltou para sua cidadezinha. Conseguira fazer as duas vendas. Tivera uma comissão daquelas!
Nunca comentara diretamente com Marcos Tito sobre seu trabalho, no que se referia ao ganho de comissões, mas dessa vez falaria. Não via a hora de chegar e contar-lhe tudinho, do seu ganho com os negócios feitos em Campinas; com prazer contaria ao namorado que a comissão foi tão boa que se não vendesse nada nos próximos seis meses, assim mesmo não teria falta alguma de dinheiro.
Queria também como uma surprêsa, emprestar a Marcos Tito o dinheiro que ele tanto dizia precisar para montar seu lugarzinho de projetos.
Conseguira falar com Marcos Tito pela última vez, no dia anterior a sua chegada. Percebera algo de estranho no namorado. Ele parecia bem nervoso.
Chegou em casa e teve um choque! Marcos Tito não estava, nem se encontrava mais no guarda-roupas algumas vestes que ele trouxera para sua estadia por aqueles dias. Não havia mais nenhum dos pertences do namorado no quarto, no banheiro ou em qualquer parte da casa.
Correu para o quarto de hóspedes, levantou o carpete num dos cantos do quarto, removeu três tacos do assoalho e numa cavidade do chão retirou uma caixinha de madeira, tipo bauzinho. Abriu-o e nada encontrou, a caixinha estava vazia.
Ficou muito triste ao perceber tudo que acontecera enquanto estivera fora. Depois começou a rir, a rir sem parar.
Falara tanto daquela moeda inglesa, centenária e valiosa a Marcos Tito, mas não lhe disse que aquela era só uma imitação que ganhara de um ex-namorado também como ela, numismata.
Naqueles dias primeiros do namoro com Marcos Tito, não sabia porque, mas sentia no seu íntimo que deveria testar o rapaz. Ainda que se entregara de corpo e alma ao moço, sentia que não podia confiar totalmente nele. Alguma coisa no jeito do rapaz em alguns momentos, a fez tomar aquela atitude de testá-lo.
Chamou o chaveiro para trocar a fechadura da porta da frente e reparou que tristeza mesmo só sentira naquele minuto em que abriu a caixinha. Agora estava aliviada e contente.
"Por sorte aquele ladrão ficou tão fascinado com o valor que a moeda verdadeira tem que não levou mais nada da casa. Só a moeda de metal mesmo!" - disse ela a si mesma, rindo e feliz por estar livre e preparada para conhecer outro alguém.
"Agora alguém bacana e honesto heim Rafinha !" - disse ao anjo imaginário que a acompanhava desde a infância!




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